O conjunto escultórico
Lado Este
D. Afonso V
ReiD. Afonso V nasceu em Sintra, a 15 de Janeiro de 1432 e morreu na mesma vila, a 28 de Agosto de 1481. Subiu ao trono, a 13 de Setembro de 1438. Tinha então seis anos, pelo que o governo do reino foi desempenhado por uma regência, inicialmente partilhada entre a rainha viúva, o duque de Coimbra e o conde de Arraiolos. Depois, entre 1440 e 1448, a regência coube apenas ao infante D. Pedro, tio do monarca. D. Afonso V casou em 1445 com D. Isabel (1432-1455), sua prima co-irmã, filha de D. Pedro.
D. Afonso V foi o primeiro monarca a delinear uma política global para a Expansão, beneficiando das decisões políticas tomadas por D. Pedro enquanto regente. A 22 de Setembro de 1443, a Coroa concedera o monopólio das viagens a Sul do Bojador ao infante D. Henrique, a título vitalício. Satisfazia, assim, os interesses pessoais do duque de Viseu e assegurava o futuro controlo direto do oceano, de que já se arrogava proprietária por via do simples facto de conceder a sua exploração a um súbdito. Após o falecimento de D. Henrique, a 13 de Novembro de 1460, D. Afonso V conservou na sua posse o exclusivo do comércio ultramarino. O rei não esperara, aliás, pela morte do tio para começar a avaliar os mercados africanos, pois em 1453, por exemplo, enviou uma frota de reconhecimento às águas da Guiné. Em 1457 voltou a interferir na área de exclusivo henriquino ao doar a seu irmão, quaisquer ilhas que seus navegadores encontrassem nas águas do Atlântico. Esta doação de ilhas por descobrir, inseria-se na política de afirmação da hegemonia portuguesa sobre o oceano. Portugal reclamava o direito de posse de qualquer território existente no Atlântico; no tempo de D. Afonso V, e até ao tratado de Tordesilhas, a coroa portuguesa encarou o Oceano como um verdadeiro “mare nostrum”. Beneficiava, para isso, do apoio da Santa Sé, consubstanciado nas bulas que reconheciam esse direito, desde a Romanus Pontifex, de 1455.
A partir de 1474, D. Afonso V associou seu herdeiro à governação, começando por lhe confiar os negócios ultramarinos. Por esta altura agonizava Henrique IV, rei de Castela, e prenunciava-se a luta pela sucessão; D. Afonso V tomou o partido de sua sobrinha, D. Joana, contra Isabel, a irmã do rei. O conflito luso-castelhano decorreu entre 1475 e 1479 e terminou com a vitória do partido de Isabel em Castela, mas simultaneamente com o triunfo português no Oceano, pois no rescaldo da guerra, a monarquia castelhana contentou-se com a posse das Canárias e deixou o domínio do oceano para a coroa portuguesa, o que foi consagrado no tratado de Alcáçovas-Toledo (1479-1480).
D. Afonso V faleceu pouco depois. Deixou a seu filho um legado extraordinário, muitas vezes mal avaliado: se é certo que a coroa tinha dívidas resultantes do esforço de guerra e que o monarca dispersara muito património pela fidalguia, em contrapartida deixava seu herdeiro com o controlo de duas ordens militares (Santiago e Avis) e com o domínio absoluto do oceano e do seu trato. E aos negócios altamente lucrativos dos escravos e dos objectos e animais exóticos, juntara-se, desde 1471, o arquipélago de São Tomé e Príncipe e, sobretudo, o ouro da Mina – uma fonte de riqueza que pareceu inesgotável durante décadas e que muito contribuiu para as políticas centralizadoras de D. João II e de D. Manuel I. Pela sua política ultramarina, D. Afonso V criara as condições para que a aventura iniciada pelo infante D. Henrique não fosse interrompida, possibilitara a consolidação do domínio da costa pelo controlo das ilhas, e permitira a descoberta de uma extraordinária fonte de ouro.
A biografia completa, da autoria de João Paulo Oliveira e Costa pode ser lida aqui
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Infante D. Henrique
O Navegador. Filho de D. João IQuinto filho de D. João I e Dona Filipa de Lencastre, nasceu em 1394, vindo a morrer no ano de 1460.
Como Gomes Eanes de Zurara refere, este Infante fez parte da expedição que tomou a cidade de Ceuta, no norte de África, em 1415. Foi da sua responsabilidade a organização das forças do norte do país que participariam nesta expedição. A sua bandeira foi a primeira a entrar na cidade, onde foi armado cavaleiro com os seus irmãos D. Duarte e D. Pedro, por seu pai, D. João I.
Mais tarde, em 1437, comandou a expedição contra a cidade de Tânger, na qual o seu irmão Infante D. Fernando ficou como refém.
Sendo o Infante D. Henrique detentor de uma vastíssima riqueza fundiária e de um imenso poder, a sua nomeação para administrador geral da Ordem de Cristo, em 1420, ainda veio aumentar mais esse poder, permitindo-lhe dar seguimento à política ultramarina.
Desde há muito que Lagos tinha um papel de destaque. Com a decisão de manutenção da cidade de Ceuta, a vila de Lagos adquiriu uma importância estratégica, servindo de base de apoio militar àquela praça norte-africana. Assim se compreendem as estadias do Infante D. Henrique nesta vila e noutros pontos do barlavento algarvio, nomeadamente Sagres.
Várias foram as razões que teriam motivado o Infante para impulsionar as navegações no oceano Atlântico – a curiosidade científica, nomeadamente no interesse pelo conhecimento de novas terras e novas gentes; o interesse económico, em termos do conhecimento de postos comerciais importantes para o estabelecimento de relações; o desejo de expansão da fé, ligado à expansão política, a que não seria estranha a ideia da cruzada contra os infiéis. Por fim, este cronista referia uma outra razão, esta ao nível da mentalidade, ou seja, a importância que a astrologia tinha naquela época, sendo esta favorável aos intentos do Infante D. Henrique.
Desta forma, o Infante promoveu navegações pelo oceano Atlântico Ocidental, durante as quais foi «achado» o arquipélago da Madeira (1418/19), por João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo – os dois primeiros colonizaram a ilha da Madeira e o terceiro a ilha de Porto Santo – , e descoberto o arquipélago dos Açores (1427), por Diogo de Silves.
Ao mesmo tempo, incrementou as navegações ao longo da costa ocidental africana, no sentido sul. O grande obstáculo que era o cabo Bojador fora ultrapassado no ano de 1434, por Gil Eanes. A partir daí, com a quebra da grande barreira psicológica e geográfica que era este Cabo, o rumo das navegações para sul estava facilitado.
No ano de 1460, ano da morte deste Infante, com a chegada à Serra Leoa de Pedro de Sintra, estavam descobertos cerca de dois mil quilómetros de costa africana para lá do Bojador.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Vasco da Gama
NavegadorVasco da Gama terá nascido na vila de Sines, apontando-se a data de 1469. Seu pai, Estevão da Gama, estivera ligado à Casa de Viseu, tendo mais tarde ocupado um lugar na Ordem de Santiago, sendo detentor de uma comenda desta e exercendo os cargos de alcaide-mor e capitão da vila de Sines. Pelo lado de sua mãe, Isabel de Sodré, descendia de uma família com raízes nas ilhas britânicas e com profundas ligações à Ordem de Cristo.
As razões que levaram D. Manuel a escolher Vasco da Gama como capitão-mor da armada a ser enviada à Índia têm sido alvo de debate. A cronística coeva não permite compreender o porquê da escolha de um fidalgo, aparentemente, obscuro e potencialmente ligado a círculos de oposição ao rei, para chefiar uma expedição tão importante para o projeto imperial manuelino. Alguns historiadores avançaram a possibilidade de Vasco da Gama ter experiência marítima prévia, baseando-se na sua missão de 1492 e em hipotéticas viagens de exploração no Atlântico Sul e no Índico, cujos registos se teriam perdido. O consenso historiográfico aponta, no entanto, para esta escolha estar relacionada com negociações tácitas entre as diferentes correntes políticas presentes na corte, muitas das quais opostas ao envio da armada ao Índico.
Certo é que Vasco da Gama se encontrava ao comando da armada que zarpou de Lisboa, a 8 de Julho de 1497, sendo composta pelas naus São Gabriel e São Rafael, comandadas por Vasco da Gama e pelo seu irmão Paulo da Gama, pela caravela Bérrio, sob o comando de Nicolau Coelho e por um navio de mantimentos, que viria a ser desmantelado após a passagem do Cabo da Boa Esperança.
Prosseguindo por águas ainda não navegadas por embarcações portuguesas, a armada explorou a região da foz do rio Inharrime, após terem sido alcançados os primeiros entrepostos comerciais islamizados, nomeadamente na ilha de Moçambique e em Mombaça, onde se deram incidentes violentos que obrigaram a seguir caminho. Foi apenas em Melinde, graças à rivalidade do soberano local com os seus vizinhos de Mombaça, que Vasco da Gama e os seus navios foram bem acolhidos, tendo embarcado um piloto, provavelmente de origem guzerate, que os guiou na travessia do Índico até à costa indiana. A 20 de Maio a armada chegava finalmente às proximidades de Calicute, porto que controlava o comércio de pimenta da costa do Malabar.
Após contactos iniciais, protagonizados por um degredado que havia sido levado na armada, Vasco da Gama acabou por desembarcar em Calicute. Após uma breve visita à cidade, a qual não dissipou a ideia de que se encontravam em terras habitadas por cristãos, Vasco da Gama foi recebido pelo soberano local, o Samorim. Nesta audiência, apesar de ter sido concedida autorização aos portugueses para comerciarem na cidade, tornou-se evidente que os produtos trazidos a bordo não despertavam o interesse dos comerciantes locais. Desta forma, ao fim de algumas semanas de estadia, em que as relações com o Samorim e com os mercadores muçulmanos se foram tornando progressivamente mais crispadas, a armada de Vasco da Gama partiu de Calicute.
A partir desse momento acumularam-se as mercês outorgadas pela Coroa. Deste modo, tomou lugar no Conselho Real, foram-lhe concedidos os títulos de Dom e de Almirante da Índia, tendo-lhe sido atribuída a prerrogativa de enviar anualmente à Índia 200 cruzados para comércio próprio livre de tributação. Por alvará de Dezembro de 1499 foi-lhe igualmente concedida a posse hereditária da vila de Sines e dos seus rendimentos, o que levou a uma disputa com a Ordem de Santiago que detinha a posse da dita vila. Em 1501, Vasco da Gama desposou D. Catarina de Ataíde, ligando-se por esta via a duas importantes famílias do Reino, os Ataídes e os Almeidas.
Durante os anos que se seguiram à viagem de Vasco da Gama foram enviadas duas expedições à Índia, em 1500 e em 1501, comandadas respetivamente por Pedro Alvares Cabral e João da Nova.
Em Fevereiro de 1502 a nova armada [comandada por Vasco da Gama] rumou ao Índico chegando ao porto de Sofala, na costa oriental africana, em Junho. Cerca de um mês mais tarde a armada aproximou-se do porto de Quíloa. Sob ameaça de bombardeamento o governante local aceitou negociar com os portugueses, comprometendo-se a pagar um tributo em ouro simbolizando a sua submissão. Partido de Quíloa, e após uma tentativa de rumar a Melinde, frustrada pelo mau tempo, a armada rumou à costa ocidental indiana chegando às proximidades de Cananor em Setembro, onde se preparou para emboscar navios muçulmanos que viessem do Mar Vermelho.
Por fim, em inícios de 1503 a armada zarpou de regresso a Portugal, deixando no Índico os navios comandados por Vicente Sodré.
Entrando em Lisboa com o grosso da armada a 10 de Outubro de 1503, Vasco da Gama foi inicialmente muito bem recebido. O ouro pago em tributo pelo governante de Quíloa foi entregue a D. Manuel, tendo Vasco da Gama sido agraciado com novas mercês. Contudo, as relações de Vasco da Gama com a Coroa parecem ter rapidamente esfriado. Têm sido apontados como fatores determinantes deste afastamento os relatos que se foram conhecendo da excessiva violência empregada pelo Almirante na sua viagem de 1502, os rumores das riquezas que acumulara a título pessoal e, sobretudo, o descontentamento da Coroa com o comportamento de Vicente Sodré que, ficando na Índia com o objetivo de defender os interesses portugueses, naufragara perto do Mar Vermelho, aonde se dirigira numa tentativa infrutífera de capturar embarcações muçulmanas, permitindo o ataque das forças do Samorim de Calicute à feitoria portuguesa de Cochim.
O percurso de ascensão social de Vasco da Gama atingiu assim o seu zénite e a sua importância no panorama político do Reino ganhou novo fôlego com a subida ao trono de D. João III, em 1521. Três anos mais tarde Vasco da Gama rumava novamente à Índia, desta feita para assumir o governo do Estado da Índia e o título de vice-rei assim que avistasse o primeiro porto indiano.
Partindo a 14 de Abril de 1524, a armada atingiu o porto indiano de Chaul em Setembro. Rumando a Goa, onde passou o mês seguinte, Vasco da Gama rumou em seguida a Cochim, após uma breve passagem por Cananor. Em Cochim, imerso em conflitos com os fiéis do anterior governador Duarte de Menezes, Vasco da Gama adoeceu vendo-se impossibilitado de liderar um ataque a Calicute onde recrudescia o conflito entre os portugueses e a comunidade local de mercadores muçulmanos. Acabou por falecer nesta mesma cidade de Cochim, na véspera de natal de 1524.
A biografia completa, da autoria de José Ferreira pode ser lida aqui
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Bibliografia:
FONSECA, Luís Adão da, Vasco da Gama: O Homem, a Viagem, a Época, Lisboa, Comissariado da Expo 98, 1997. O Tempo de Vasco da Gama, dir. Diogo Ramada Curto, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998. SUBRAHMANYAM, Sajay, A Carreira e a Lenda de Vasco da Gama, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998.
Afonso Gonçalves Baldaia
NavegadorDesde cedo esteve ligado à casa do Infante D. Henrique, Afonso Gonçalves Baldaia foi um dos primeiros navegadores a ser enviado para explorar a costa ocidental africana.
Como Gomes Eanes de Zurara refere, partiu com Gil Eanes na segunda viagem deste para lá do cabo Bojador, em 1434, com a dupla incumbência de ir o mais longe possível e de encontrar gente nativa da região para o estabelecimento de futuros contactos. Assim, atingiu o rio do Ouro e a Pedra da Galé.
Em 1436, regressou a Portugal, nunca mais participando nas navegações promovidas pelo Infante D. Henrique, encontrando-se, em 1437, como almoxarife da cidade do Porto. Por volta de 1450, aparece Afonso Gonçalves Baldaia como um dos povoadores da ilha Terceira.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Pedro Álvares Cabral
NavegadorPedro Álvares Cabral, foi o capitão-mor da armada da Índia de 1500. Ao fundear em terras sul-americanas tornou-se no descobridor oficial do Brasil. A sua nomeação parece integrar-se numa política de D. Manuel I para aumentar a influência da Ordem de Cristo, relativamente à estrutura de comandos das armadas da Índia. Pedro Álvares pertencia a uma linhagem que servia a Ordem e a Casa de Viseu-Beja havia um século. O bisavô, Luís Álvares Cabral, fora vedor-mor de D. Henrique, 1º duque de Viseu e governador da Ordem. O avô, Fernando Álvares Cabral, morrera em Tânger, em 1437, ao defender D. Henrique. O pai, Fernão Cabral, também pertencera à Casa de Viseu e acompanhara o duque a Marrocos, em 1458; fora depois um dos fidalgos que haviam ficado a defender Alcácer-Ceguer do assédio muçulmano. Após a morte do infante D. Henrique, Fernão Cabral passara a integrar a Casa real. Era alcaide-mor de Belmonte e membro do Conselho, tendo desempenhado outros cargos relevantes na Beira em nome da Coroa.
Ao partir de Lisboa, em Março de 1500, Pedro Álvares levava duas missões. Em primeiro lugar proceder discretamente à busca de terras no sudoeste do Atlântico; em segundo lugar tentar estabelecer relações diplomáticas e comerciais com Calicute e realizar uma demonstração de força contra os muçulmanos que dominavam os mares da Ásia. Levava, por isso, uma armada de 13 navios: 8 navios d’el-rei destinados à Índia, dois armados por privados com o mesmo destino, duas outras embarcações que deviam ficar na costa oriental africana e mais um navio pequeno carregado de mantimentos suplementares. A cronologia desta armada da Índia de 1500 é analisada em artigo separado.
Depois de ter passado o arquipélago de Cabo Verde sem se deter e de ter perdido um navio, cujo destino nunca foi conhecido, a armada cabralina mudou de rumo e começou a navegar para Oeste e Noroeste, em águas mais a Ocidente das que haviam sido cruzadas pela armada do Gama. Foi, de facto, vogando nessa direção (com o cabo da Boa Esperança nas costas) que a tripulação avistou o monte Pascoal e a atual baía Cabrália. Após uma escala de uma semana a armada retomou sua viagem para Oriente, à exceção do navio pequeno que foi reenviado para o reino com a notícia da descoberta. A chegada a Lisboa dos homens comandados por Gaspar de Lemos passou despercebida, o que só se compreende se a tripulação tivesse ordens estritas para não referir os sucessos da viagem e o exotismo da paisagem e das gentes encontradas; tal facto só se pode explicar por uma ordem dada pelo próprio rei, ou seus oficiais mais próximos, antes da partida da armada, pois, em regra, a chegada de um navio com a notícia de um descobrimento era rodeada de alarido e da apresentação de animais e indígenas desses lugares.
Se a primeira missão foi cumprida com sucesso, já a demanda do Oriente revelou-se bem mais difícil. Ainda antes de cruzar o cabo da Boa Esperança, a armada foi surpreendida por uma forte tempestade que provocou o naufrágio de quatro navios e o desgarramento de um outro. Reduzido a seis embarcações, Pedro Álvares confirmou as boas relações com Melinde, e depois cruzou o Mar Arábico. Inicialmente, o Samorim acolheu bem os Portugueses e concedeu-lhes um local para estabelecerem uma feitoria. No entanto, os mercadores muçulmanos conseguiram manipular o soberano indiano, ao mesmo tempo que logravam retardar o abastecimento dos navios portugueses. Entretanto, a pedido do Samorim, a armada portuguesa capturou um navio carregado de elefantes; para cumprir essa missão o capitão-mor destacou apenas a caravela de Pero de Ataíde, o navio mais pequeno da sua esquadra, pelo que o triunfo do Ataíde redundou numa manifestação de força e num crescendo de preocupações para os comerciantes muçulmanos.
Durante o regresso, perdeu-se mais uma nau na costa oriental africana, mas as demais chegaram a salvamento ao reino entre o final de Junho e o fim de Julho de 1501. No regresso da Índia, Cabral trouxe uma boa carga de especiarias, bem como as bases da aliança com Cochim e as primeiras notícias de Sofala. Apesar das avultadas perdas humanas e materiais que a armada sofreu, D. Manuel I apreciou o desempenho de Pedro Álvares Cabral. Só assim se explica que o tenha nomeado de seguida capitão-mor da armada que haveria de partir para a Índia na Primavera de 1502. No entanto, o monarca atribuiu, ao mesmo tempo, um comando autónomo a Vicente Sodré, também cavaleiro da Ordem de Cristo, destinado especificamente ao bloqueio do Mar Vermelho. Desagradado, Cabral terá provocado um incidente ao manifestar a sua oposição à existência de um comando autónomo no Índico. Terá sido esse incidente que levou o rei a confiar o comando da armada de 1502 a Vasco da Gama, então cavaleiro da Ordem de Santiago. Ao contrário dos outros comandos sobreviventes da sua armada, Cabral não voltou a servir a Coroa, embora em 1502 tenha casado com D. Isabel de Castro da linhagem dos Noronhas e sobrinha de Afonso de Albuquerque. D. Manuel I terá ficado muito insatisfeito com o incidente político provocado por Cabral, pois nunca mais recorreu aos seus serviços. Pedro Álvares Cabral faleceu em 1520, tendo sido sepultado na Igreja da Graça, em Santarém.
A biografia completa, da autoria de João Paulo Oliveira e Costa pode ser lida aqui
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Que por questão técnicas, neste momento, não se encontra disponível no site http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/
Fernão de Magalhães
NavegadorMorador da Casa Real, o seu nome ficou associado à primeira viagem de circum-navegação. Nasceu por volta de 1480 no norte de Portugal, talvez no Porto, e foi morto em 27 de Abril de 1521 na ilha de Mactão (actuais Filipinas), no decurso da sua famosa viagem.
Originário da nobreza minhota, Fernão de Magalhães era filho de Rodrigo de Magalhães e de Alda Mesquita. A família não teria muitos recursos, o que terá ditado o seu ingresso como pajem na corte da rainha D. Leonor em 1492, onde viveu durante treze anos.
Magalhães encaixa-se no perfil dos filhos da nobreza que procuraram o Oriente para aumentar o estatuto e os rendimentos, tanto que o vamos encontrar mais tarde a solicitar recompensas pelos serviços prestados.
Partiu em 1505, a bordo da armada do primeiro vice-rei do futuro Estado Português da Índia, D. Francisco de Almeida, acompanhado do irmão Diogo e de Francisco Serrão, o futuro feitor português em Maluco, de quem se tornaria próximo.
Ficou oito anos no Oriente, onde participou em várias campanhas. Em Outubro de 1510 integrou um dos conselhos de Afonso de Albuquerque onde se discutiu a reconquista de Goa, tendo participado no mês seguinte na conquista. Em 1511 foi a vez de Malaca, também com Afonso de Albuquerque.
Em 1513, Magalhães voltou a Lisboa. Terão sido as dificuldades financeiras que o levaram a tomar parte na expedição do duque de Bragança que conquistou a praça norte-africana de Azamor em Setembro, juntamente com o seu irmão.
Ferido numa perna, foi feito quadrilheiro-mor, encarregado de gerir o saque. Foi então acusado de ter vendido gado que estava sob a sua responsabilidade. Os rumores terão jogado contra si na altura de conseguir uma recompensa da Coroa pelos seus serviços: entre 1514 e 1516 fez pelo menos duas petições de progressão na carreira que foram recusadas.
Foi depois disso que Fernão de Magalhães se mudou para Espanha – para o que renunciou publicamente à sua condição de súbdito de D. Manuel –, chegando a Sevilha em 20 de Outubro de 1517. O navegador mudou-se com a pretensão de provar (equivocadamente) nesse reino que o arquipélago de Maluco ficava na parte espanhola de Tordesilhas, aproveitando o facto de esse tratado assinado em 1494 não ter estabelecido um contrameridiano. Ao mesmo tempo, definia a possibilidade de se alcançar o arquipélago por Ocidente, contornando o continente americano pelo Sul, ou seja, evitando as rotas orientais dos Portugueses.
Com estes argumentos, desejava fazer valer o seu projeto junto do novo rei de Espanha, Carlos I (futuro Carlos V), e, para o fundamentar, tinha reunido um manancial de informação que lhe chegava por Francisco Serrão, os cosmógrafos Rui e Francisco Faleiro e os cartógrafos Pedro e Jorge Reinel.
As instruções do rei a Magalhães e Faleiro datam de 8 de Maio de 1519. As instruções, que os autores apontam como instrumento de homogeneização da ação ultramarina, reuniam preceitos gerais relativos à navegação e normas concretas para aquela expedição. Abarcavam vários assuntos: poderes e hierarquia a bordo, normas de navegação, o respeito pela área portuguesa de Tordesilhas e pelos autóctones dos lugares que encontrassem. Diziam ainda respeito à acção de Magalhães no contacto com outros povos e no estabelecimento de pactos, devendo evitar exposição imprudente.
No dia 20 de Setembro de 1519, os cinco navios – Trinidad, Victoria, San António, Concepción e Santiago – saíram de Sanlúcar de Barrameda, na foz do Guadalquivir.
Magalhães, que parece ter demonstrado grandes de capacidades como piloto e capitão, dirigiu a sua armada pelo Atlântico Sul, tendo passado pelas Canárias. No final do ano estava no Rio de Janeiro e passou em Janeiro de 1520 pelo rio da Prata.
Em Abril de 1520, a armada estava no porto de São Julião, onde se registou um motim.
Em Maio, a Santiago perdeu-se numa tempestade. A frota saiu de São Julião a 24 de Agosto. Entre 21 de Outubro e 27 de Novembro, atravessou o estreito de Magalhães (batizado então de Todos-os-Santos), chegando ao oceano a que chamaram Pacífico. Entretanto, a San Antonio amotinou-se e fugiu.
Seguindo pelo Pacífico, os restantes três navios chegaram em Março de 1521 às Filipinas. Nesse arquipélago, na ilha de Cebu, Magalhães envolveu-se com as populações, contra as instruções de Espanha. Tomando parte numa luta armada contra um grupo da ilha de Mactão, acabou morto na praia em 27 de Abril de 1521.
Continuando viagem, Juan Sebastian de Elcano foi feito capitão. A Concepción foi entretanto desmantelada.
Em 8 de Novembro chegaram a Maluco, o objetivo da viagem, fundeando em Tidore, cujo rei os recebeu e onde foi feita a primeira aquisição de cravo.
A viagem de Fernão de Magalhães constituiu a primeira viagem de circum-navegação e, se a possessão de Maluco se revelou dificultada, estava aberto o caminho para a colonização espanhola das Filipinas e o estabelecimento definitivo da rota espanhola das especiarias.
No domínio dos conhecimentos geográficos, a viagem de Magalhães provou ainda a existência de um estreito de passagem entre o Atlântico e o Pacífico, contrariando crenças numa ligação pelo Prata ou na faixa contínua de terra até sul e abrindo caminho à navegação no Pacífico.
A biografia completa, da autoria de Pedro Cerdeira pode ser lida aqui
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Bibliografia:
BRAGA, Isabel Maria Ribeiro Mendes Drumond, Península Ibérica: Um Espaço, Dois Reinos (Interrelações na Época de Carlos V), tese policopiada, Lisboa, 1996. Fernão de Magalhães e a sua viagem no Pacífico. Antecedentes e consequentes. Actas VII Simpósio de História Marítima, Lisboa, Academia de Marinha, 2002. LAGOA, Visconde de, Fernão de Magalhães. A sua vida e a sua viagem, 2 vols., Lisboa, Seara Nova, 1938. MOTA, A. Teixeira da (org.), A viagem de Fernão de Magalhães e a questão das Molucas. Actas do II Colóquio Luso-Espanhol de História Ultramarina, Lisboa, Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1975. SUBRAHMANYAM, Sanjay, A Carreira e a Lenda de Vasco da Gama, Lisboa, CNCDP, 1998
Nicolau Coelho
NavegadorNão se sabe o ano nem o local do seu nascimento. Nicolau Coelho Terá morrido em 1504.
Distinguiu-se como comandante de navios em ligação com a Índia.
Em 1497, encontramo-lo como comandante da nau Berrio, integrada na armada de Vasco da Gama e que descobriu o caminho marítimo para a Índia, tendo sido o primeiro navio a chegar a Lisboa no regresso da viagem. Veio a receber por parte de D. Manuel I uma tença anual pelos serviços prestados neste descobrimento.
Sempre no cargo de comandante, e no ano de 1500, fez parte da frota do capitão-mor Pedro Álvares Cabral, aquando da descoberta ou achamento do Brasil, dirigindo-se, depois, para a Índia.
De regresso a Portugal, capitaneou, no ano de 1503, um dos navios da armada de Francisco de Albuquerque, rumo à Índia.
Terá morrido no regresso a Portugal, devido a uma tempestade.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Gaspar Côrte-Real
NavegadorGaspar Côrte-Real terá seguido o exemplo de seu pai, João Vaz Corte-Real, e de seu irmão, Miguel Corte-Real, explorando o Atlântico Norte.
Em 1499, era capitão e governador de justiça das ilhas de São Jorge e Terceira.
Nos finais do século XV, já no reinado de D. Manuel I, fez uma viagem rumo ao Ocidente, tendo chegado provavelmente à Gronelândia e à costa nordeste da América do Norte (costa do Labrador, Canadá e bacia de São Lourenço). Regressou aos Açores, depois desta viagem.
Em 1501, preparou uma nova expedição para Ocidente, que o rei autorizou, concedendo-lhe doação das terras que ele viesse a descobrir, com plenos poderes civis e criminais. Nunca mais regressou a Portugal, tendo provavelmente morrido em algum naufrágio.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Martim Afonso de Sousa
NavegadorPrimogénito de Lopo de Sousa, aio do 4º duque de Bragança, alcaide-mor de Bragança e senhor do Prado, e de D. Brites de Albuquerque, filha do alcaide-mor do Porto, João Rodrigues de Sá. Martim Afonso de Sousa foi admitido na corte em 1516, depois de o duque e D. Manuel I terem intervido no sentido de o impedir de rumar a Castela. Integrou então a Casa do príncipe herdeiro, D. João, como moço da guarda-roupa. Junto deste foi encontrar o primo co-irmão D. António de Ataíde.
A convivência e a semelhança de idades estimularam a formação de estreitos laços de amizade entre as três figuras. A primeira evidência disso ocorreu em 1518, quando D. Manuel I resolveu casar com D. Leonor de Áustria, noiva anteriormente destinada ao filho. Tal como o primo, Martim Afonso manteve-se firme no apoio ao príncipe, certamente na expectativa de que a recompensa haveria de ser ganha. O fidalgo ter-se-ia compenetrado das potencialidades da dinâmica de curialização. Neste contexto se compreende que, em 1520, tivesse abdicado do vínculo à Casa de Bragança e dos benefícios seguros que lhe estavam associados (o usufruto da alcaidaria-mor de Bragança e de um elevado rendimento anual), transferindo-se para o serviço da realeza.
Em 1523, Martim Afonso fez parte do séquito que levou a rainha-viúva de D. Manuel I de volta a Castela, tornando a Portugal, dois anos volvidos, na companhia da nova soberana, D. Catarina. Naquele meio-tempo, casou com a castelhana D. Ana Pimentel e deu o seu contributo à hoste do reino vizinho, durante a primeira guerra que opôs Carlos V a Francisco I de França, vindo a granjear o elogio do imperador.
O início da carreira ultramarina sucedeu em 1530, com a sua nomeação para a capitania-mor da armada e da terra do Brasil, altura em que se tornou, igualmente, membro do Conselho.
A circulação dos Franceses pelo Brasil, num quadro de incipiente ocupação lusa, começava então a afigurar-se preocupante. Por seu turno, Martim Afonso de Sousa vira diminuir o seu estatuto desde que, em 1525, fora obrigado a vender o senhorio do Prado à Coroa, de modo a liquidar uma divida contraída junto da mesma instância. Do exposto se infere quão favorável era a conjuntura à sua escolha para dirigir a expedição em causa: era forçosa uma intervenção na zona e conveniente a atribuição do respetivo comando a um fidalgo que fosse credor da confiança política e pessoal, tanto do rei como do vedor da Fazenda encarregue de superintender a missão.
A expedição prolongou-se por três anos, saldando-se por um assinalável êxito ao dar azo à caça das velas francesas detetadas, ao reconhecimento das bacias amazónica e platina, à realização de bem sucedidas experiências de adaptação da cana-de-açúcar e à fundação de núcleos de povoamento em S. Vicente e no planalto de Piratininga.
O agrado de D. João III perante o desempenho do amigo foi total, daí resultando a doação, em 1534, de duas das capitanias-donatarias instituídas no Brasil: a de S. Vicente e a do Rio de Janeiro. Ainda naquele ano, Martim Afonso navegou para o Oriente investido nas funções de capitão-mor da armada do Reino, tomando posse como capitão-mor do mar da Índia após a chegada. Fora remetido para o segundo lugar da hierarquia do Estado da Índia, mas as suas expectativas fixavam-se no topo da mesma, onde estava instalado Nuno da Cunha.
Em Janeiro de 1538, o triunfo averbado por Martim Afonso contra a armada de Calecut, no porto de Beadala-Vedalai, revelou-se fundamental para inibir a capacidade reativa dos inimigos e para afirmar a hegemonia portuguesa nas áreas compreendidas entre o Malabar e o Mar de Ceilão. Os benefícios obtidos estenderam-se a um âmbito suprarregional, considerando que a firmeza conferida à presença lusa no Sul da Índia permitiu enfrentar com maior segurança o ataque otomano sobre Diu, nos inícios de Setembro de 1538.
Contrariando o desejo de Martim Afonso, a Coroa indicou, naquele ano, D. Garcia de Noronha como sucessor de Nuno da Cunha, facto que encontrava justificação na previsibilidade da ofensiva otomana e na necessidade simultânea de prover o Estado da Índia de uma solução de governo forte e consensual. Levantado o cerco de Diu e desprovido de autorização do novo vice-rei para perseguir os inimigos, o fidalgo iniciou a viagem de volta a Lisboa nos começos de 1539. Acaso tivesse permanecido na Índia, teria tido a oportunidade de ascender ao governo, em Abril de 1540, na sequência da morte de D. Garcia e da abertura da primeira via de sucessão.
Em Portugal, D. João III já havia feito, entretanto, promessa do lugar a Martim Afonso, confirmando a disposição, em Janeiro de 1541, logo que se teve eco do falecimento de D. Garcia e da subida ao poder de D. Estevão da Gama. Significa isto que o filho do descobridor da Índia estava destinado a ser um governador a prazo, impedido de exercer o mandato até ao fim dos três anos regulamentares. (…) A questão acabou por ser resolvida, a favor de Martim Afonso, numa reunião do Conselho, dando-lhe tempo para sair de Lisboa a 7 de Abril de 1541.
A navegação foi acidentada, pelo que o desembarque em Goa tardou até Maio de 1542. Dali em diante, o governador empenhou-se em favorecer parentes maternos e paternos, amigos, servidores pessoais e funcionários próximos, bem como em desenvolver atividades comerciais suscetíveis de lhe darem lucro. Esta dimensão liberal da sua administração tem dado azo à extrapolação de conclusões semelhantes relativamente à generalidade do cumprimento do mandato, em especial, quando se trata de evocar a «Viagem do Pagode» (ou seja, a tentativa frustrada de assalto ao templo hindu de Tirumala-Tirupati) e a organização da expedição de busca da mítica ilha do Ouro, ambas datadas de 1543. Sucedeu que qualquer uma das iniciativas teve aval prévio da Coroa.
A administração em apreço foi ainda marcada pela reforma das alfândegas de Ormuz e de Malaca. pelo início da territorialização da presença portuguesa em Goa, mediante a anexação das terras de Bardês e Salsete e pela desvalorização dos bazarucos, a moeda de cobre com circulação corrente na capital do Estado da Índia. Os últimos processos suscitaram elevada polémica a nível local, respetivamente, por terem implicado a disponibilidade portuguesa de entregar ao sultão de Bijapur o exilado príncipe Mealecão e a inflação dos bens alimentares. Não foram, porém, queixas vindas da Índia que levaram D. João III a substituir Martim Afonso por D. João de Castro, em 1545. O soberano estava informado, desde o ano anterior, da indisponibilidade do amigo para continuar no cargo. Por conseguinte, a tensão que passou a pautar a relação entre os dois foi posterior ao regresso de Martim Afonso ao Reino, no Verão de 1546, e teve como razão a chuva de queixas que só então veio da Índia. A estabilização da relação entre o fidalgo e D. João III verificou-se em 1547.
Senhoreando, desde 1542, a vila de Alcoentre e a aldeia de Tagarro, Martim Afonso ocupou-se doravante com o engrandecimento da sua casa senhorial. Em data incerta, assumiu a alcaidaria-mor de Rio Maior. Foi figura destacada no apoio à regência de D. Catarina e, depois, também o cardeal D. Henrique buscou o seu conselho. Faleceu a 25 de Novembro de 1570, recebendo sepultura na capela que fundara na Igreja do Convento de S. Francisco, em Lisboa.
A biografia completa, da autoria de Alexandra Pelúcia, pode ser lida aqui
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Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de (dir.), Martim Afonso de Sousa, Lisboa, Publicações Alfa, 1989. FLORES, Jorge, Os Portugueses e o Mar de Ceilão. Trato, Diplomacia e Guerra (1498-1543), Lisboa, Edições Cosmos, 1998. FREITAS, Jordão de, «A Expedição de Martim Afonso de Sousa», in História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol. III, Porto, Litografia Nacional, 1924, pp. 96-164. PELÚCIA, Alexandra, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem: A Elite Dirigente do Império Português nos Reinados de D. João III e D. Sebastião, Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada. SUBRAHMANYAM, Sanjay, «Notas sobre um Rei Congelado: o Caso de Ali bin Iusuf Adil Khan, Chamado Mealecão», in Passar as Fronteiras. Actas do II Colóquio Internacional sobre Mediadores culturais – Séculos XV a XVIII, coors. Rui Loureiro & Serge Gruzinski, Lagos, Centro de Estudos Gil Eanes, 1999, pp. 265-290. Idem, «Of Pagodas and Politics: Tirupati as El-Dorado», in Penumbral Visions. Making Polities in Early Modern South India, Nova Deli, Oxford University Press, 2001, pp. 22-60.
João de Barros
EscritorHistoriador, geógrafo, autor de importante obra doutrinária, pedagógica e gramatical e alto funcionário da coroa portuguesa no reinado de D. João III. João de Barros, nascido provavelmente em Viseu, de família fidalga, ainda muito jovem entrou na corte régia onde, com outros moços-fidalgos, aprendeu latim, matemática e humanidades.
A Crónica do Imperador Clarimundo (1522), romance de cavalaria que exalta as origens imaginárias da casa real portuguesa, oferecida a D. Manuel em 1520, assinala a sua estreia como escritor. Nela, o herói Fanimor profetiza em prosa de aspiração épica as futuras glórias dos reis de Portugal. O Clarimundo constitui sobretudo um “ensaio” de João de Barros, nascido dois anos antes da chegada de Vasco da Gama à Índia, para aquele que já então era, inegavelmente, o seu verdadeiro projeto: a narração dos feitos dos portugueses no Oriente.
A Crónica agradou de tal forma a D. Manuel que o monarca quis encarregá-lo da escrita das “cousas das partes do Oriente”, já que até então, apesar de querer celebrar os feitos portugueses, “nunca achara pessoa de que o confiasse” (Década I, “Prólogo”). A morte do rei veio interromper o projeto já que o novo soberano, D. João III, lhe concedeu, logo em 1522, o governo do Castelo da Mina, cargo que não terá chegado a exercer, embora talvez tenha viajado até S. Jorge.
Em 1525 Barros foi investido nas funções de tesoureiro das Casas da Índia, Mina e Ceuta, que exerceu até 1528, e em 1533 foi nomeado feitor da Casa da Índia, cargo de maior relevo e rendimento, que desempenhou durante cerca de trinta e cinco anos. Em 1535 recebeu, no quadro da política régia visando o povoamento e a colonização do Brasil, com Aires da Cunha, fidalgo com experiência do mar, e Fernão Álvares de Andrade, tesoureiro-mor do reino, a capitania relativa ao extenso território de costa que ia do Rio Grande ao Maranhão. Com a finalidade de tomarem posse da capitania, os três donatários organizaram em Lisboa uma expedição de grande aparato. A armada, que zarpou nos finais de 1535, acabou por naufragar perto do Maranhão, facto que constituiu, para lá dos aspectos dramáticos de que se revestiu, um desastre financeiro do qual João de Barros nunca se recompôs. Foi depois deste episódio que Barros se ofereceu a D. João III para “escrever as cousas da Índia”.
Funcionário destacado da administração régia durante mais de trinta anos, João de Barros manteve uma intensa atividade como escritor. Com uma sólida formação humanista e uma amplíssima erudição, ao mesmo tempo que ia concebendo e escrevendo a sua obra historiográfica, Barros publicou em 1532 a erasmizante Ropicapnefma (que em português significa “Mercadoria Espiritual”), escreveu, além de algumas que em definitivo se perderam, um notável conjunto de obras de carácter gramatical, pedagógico e didáctico que publicou nos anos de 1539 e 1540, com destaque para a Gramática da Língua Portuguesa, compôs c. 1543, o Diálogo Evangélico sobre os Artigos da Fé, contra o Talmud dos Judeus, cuja publicação foi proibida pela Inquisição. Em 1567 renunciou ao cargo de feitor da Casa da Índia, retirando-se para a sua quinta da Ribeira de Litém, perto de Pombal. Morreu em Outubro de 1570.
A biografia completa, da autoria de Ana Isabel Buescu, pode ser lida aqui
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Estevão da Gama
CapitãoSegundo filho de Vasco da Gama, Estevão da Gama nasceu em 1505, e morreu em 1575.
Em 1524, foi com o pai para a Índia, quando este foi nomeado vice-rei, onde se vai distinguir por expedições militares. De 1534 a 1539, desempenhou funções militares na praça de Malaca.
Em 1540, D. João III nomeou-o governador da Índia, após a morte do vice-rei D. Garcia de Noronha.
Em finais desse ano, organizou uma ação punitiva no mar Vermelho, com o fito de destruir as naus turcas baseadas no Suez.
Um ano depois, em 1542, com a nomeação de Martim Afonso de Sousa para governador da Índia, em sua substituição, Estêvão da Gama regressou ao Reino. Um litígio com D. João III levou-o a sair de Portugal e ir viver para Veneza. Voltou, mais tarde, ao Reino, sendo nomeado governador de Lisboa. Ainda lhe foi oferecido o cargo de vice-rei da Índia que, no entanto, rejeitou.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Bartolomeu Dias
NavegadorNão se sabe o local e o ano em que nasceu. Morreu em 1500.
Bartolomeu Dias tornou-se conhecido como comandante da frota que dobrou o cabo das Tormentas, baptizado por D. João II, cabo da Boa Esperança.
A maioria dos escritores da época não faz referência a esta viagem ou, se a fazem é de forma muito evasiva. A exceção é João de Barros na sua Década I de Ásia. Por isso, esta sua obra e a carta geográfica de Henricus Martellus Germanus são as fontes essenciais para o estudo da viagem de Bartolomeu Dias.
Há dificuldade em determinar com exatidão as datas da sua expedição.
Pensa-se que partiu em Agosto de 1487 e regressou em Dezembro de 1488.
A importância deste feito foi provar ser possível ir à Índia por mar.
Depois do regresso ao Reino, sabe-se que, em 1494, era escudeiro da casa real, e que, mais tarde, foi nomeado almoxarife do armazém da Guiné, cargo que ocupa pelo menos até 25 de Fevereiro de 1497.
Acompanhou a armada de Vasco da Gama, em 1497, até parte da sua viagem, rumando depois para a região de São Jorge da Mina. Em meados do ano de 1499, encontramos Bartolomeu Dias em missão no Atlântico Sul.
Em 1500, fez parte da frota de Pedro Álvares Cabral para a Índia. Em terras de Vera cruz – Brasil -, «mandou o capitão [Pedro Álvares Cabral] a nicolao coelho e bertolameu diiaz que fossem em terra». No prosseguimento da viagem, esta armada, sofreu uma tempestade perto do cabo da Boa Esperança, em que se afundou, entre outras, a nau de que Bartolomeu Dias era capitão.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Diogo Cão
NavegadorNavegador português nascido durante o século XV, em data incerta.
Diogo Cão, ao serviço de D. João II, efetuou algumas viagens de descobrimento, obedecendo ao propósito régio de exploração da costa africana e eventual encontro de uma passagem entre os Oceanos Atlântico e Índico.
Na sua juventude, Diogo Cão participou em ações de corso contra as embarcações castelhanas que se aventuravam na costa africana e, após a assinatura do Tratado de Alcáçovas-Toledo, em 1479, terá igualmente participado em missões de patrulhamento de forma a assegurar o cumprimento das suas cláusulas. De facto, mesmo após a assinatura deste Tratado, a exclusividade portuguesa no comércio e navegação da Costa Africana não estava totalmente salvaguardada, sendo disso exemplo a expedição do francês Eustache Delafosse. É no relato da apreensão da sua caravela, após uma refrega de artilharia, que encontramos as primeiras referências a Diogo Cão.
Uma das perspetivas historiográficas mais conhecida sobre as expedições de Diogo Cão é a defendida por Damião Peres. Segundo este historiador, o navegador realizou duas viagens ao largo do continente africano. Numa primeira, iniciada na Primavera de 1482, Diogo percorreu a área já conhecida até à Mina, de onde partiu depois para águas estranhas. Daí chegou ao Cabo do Paul, que uma vez dobrado permitiu a chegada, em Abril de 1483, à foz do Rio Poderoso, como foi designado na época (atual Rio Zaire), local onde fixou o primeiro padrão, denominado de São Jorge, e efetuou uma penetração para interior até Ielala, onde ainda se podem encontrar gravadas em rochedos inscrições que atestam a sua passagem pelo local. No seguimento da exploração da orla deparou-se com os estuários de diversos cursos fluviais e territórios costeiros até ter atingido, a 28 de Agosto do mesmo ano, o Cabo do Lobo, tendo aí fixado um segundo padrão, de nome Santo Agostinho. Chegado a este local, Diogo Cão regressou a Lisboa onde aportou em meados do mês de Março ou inícios de Abril de 1484, como se deduz da circunstância de ter recebido carta de cavaleiro, da parte de D. João II, no dia 8 de Abril do mesmo ano. Com ele desembarcaram na cidade portuguesa um grupo de escravos congoleses, para que adquirissem conhecimentos da língua portuguesa e pudessem revelar informações sobre o seu território de origem.
É, também, colocada a possibilidade de no seu retorno a Lisboa, Diogo Cão ter chegado, no dia 1 de Janeiro de 1484, à ilha de Ano Bom, tornando-se o seu descobridor. No século XVI, Valentim Fernandes, aceitando esse facto atribuiu ao referido território o nome de Ilha de Diogo Cão.
Na sua segunda viagem, iniciada em 1485, levou de volta a África os escravos nativos do Congo que tinha transportado para Lisboa, que deixou no estuário do rio Zaire, onde os trocou pelos homens portugueses que lá tinham ficado. Daí seguiu rumo ao Sul e a 18 de Janeiro de 1486 chegou ao Monte do Cabo Negro, onde fixou o padrão do Monte Negro, ao que se seguiu a ancoragem em Cape Cross (Cabo da Serra/Cruz), local em que também edificou padrão (padrão de Cape Cross). A viagem terá terminado na Serra Parda, último local assinalado no Insulário (Illustratum Insularium ou Livro das Ilhas – obra cartográfica produzida no ano de 1484) de Henricus Martellus Germanus (Heinrich Hammer – cartógrafo alemão que trabalhou em Florença entre os anos de 1480 e 1496).
Divergente é a perspetiva da investigadora Cármen Radulet, segundo a qual, Diogo Cão empreendeu três viagens, propondo datas diferentes das apontadas por Peres para a sua realização. Assim, a primeira terá decorrido entre 1481 e os últimos meses de 1482, altura em que chegou a Lisboa acompanhado de escravos indígenas congoleses. Terá partido novamente em finais do ano seguinte, chegando até à Angra de João de Lisboa. Na mesma expedição regressou ao Congo onde, não encontrando os portugueses que lá tinham ficado, capturou mais nativos. No regresso a Portugal descobriu a Ilha do Ano Bom e desembarcou na capital do Reino antes do dia 8 de Abril de 1484. Pelos alvarás régios desse dia e de 16 de Abril, D. João II premiou Diogo pelas descobertas feitas.
A última jornada terá sido iniciada no Outono de 1485, levando o navegador consigo os escravos congoleses que trocou pelos portugueses deixados em Ielala. Após chegar à Serra Parda, segundo o referido Insulário de Henricus Martellus, é provável que Diogo Cão tenha falecido. A esquadra portuguesa regressou ao Rio Congo onde embarcou a embaixada do rei local, e chegou a Portugal em finais de 1486 ou início de 1487.
Não obstante a incerteza no número de viagens realizadas por Diogo Cão e das suas respetivas datas, é inegável o contributo do navegador português para o reconhecimento da costa africana, em concreto para o projeto de encontrar a zona de comunicação entre as águas do Atlântico e do Índico.
A biografia da autoria de Raquel Prazeres
Esta biografia pertence à Enciclopédia virtual da expansão (CHAM)
Que por questão técnicas, neste momento, não se encontra disponível no site http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/
Bibliografia:
PERES, Damião, História dos Descobrimentos, Porto, Vertente, 1994; RADULET, Carmen, A viagens de Diogo Cão: um problema ainda em aberto, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1988; THOMAZ, Luís Filipe, “O projecto imperial joanino”, in De Ceuta a Timor, s.l., Difel, 1994, pp. 149-168.
António de Abreu
NavegadorDe origem madeirense, António de Abreu encontrava-se, em 1511, no Oriente, sob as ordens de D. Afonso de Albuquerque, o qual, nesse mesmo ano, o mandou como capitão-mor de uma frota de 3 navios com a missão de descobrir as Molucas, o que não consegue.
Depois do seu regresso desta viagem, há duas teorias quanto ao seu destino. A primeira refere que ele terá vindo a Portugal por duas vezes, regressando à Índia igualmente por duas vezes – a primeira em 1523, fazendo parte da armada capitaneada por Diogo da Silveira, e da segunda em 1526, na armada de Francisco Anaia, nomeado para o cargo de capitão-mor de Malaca, sob o governo de D. Estêvão da Gama. A segunda teoria dá-o como se tendo fixado em Malaca, onde terá ocupado cargos importantes.
Por fim, há autores que pretendem ter sido ele a descobrir a Austrália, embora não haja provas documentais a justificarem tal argumentação.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Afonso de Albuquerque
GovernadorAfonso de Albuquerque nasceu por volta de 1460 e morreu na Índia, em 1515.
A sua vida decorreu durante os reinados de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, durante os quais desempenhou tarefas militares ao serviço destes reis, tendo pertencido à Ordem de Santiago, onde ingressou em 1505.
Desde cedo, tomou parte em expedições no norte de África, servindo em Arzila logo após a sua conquista.
No ano de 1503, teria feito parte de uma armada com destino à Índia, tendo por missão combater o rei de Calecut, vindo a edificar uma fortaleza em Cochim. Regressou a Portugal no ano seguinte.
Esta primeira experiência no Oriente permitiu-lhe percecionar a necessidade de organizar postos-chave fulcrais para a segurança da presença portuguesa no oceano Índico. Para pôr em prática esta política, parte novamente para a Índia, no ano de 1506, com a incumbência de assumir o cargo de governador da Índia, em substituição do vice-rei D. Francisco de Almeida.
Se, no plano militar, Afonso de Albuquerque reforçou a presença portuguesa com a conquista de pontos estratégicos, como Goa (1510-2ª tentativa), Malaca (1511) e Ormuz (1515-2ª tentativa), entre outros, no plano político-social, tentou reforçar esta presença promovendo uma política de miscigenação entre portugueses e autóctones.
Tendo sido o segundo governador da Índia, pode afirmar-se ter sido ele o criador do Império Português no Oriente.
Devido a intrigas junto do rei, Afonso de Albuquerque foi demitido, sendo substituído por Lopo Soares de Albergaria.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
São Francisco Xavier
MissionárioSão Francisco Xavier nasceu no ano de 1506, no reino de Navarra, e morreu em 1552, na ilha de Sanchoão, na China.
Estudou e ensinou em França, onde conheceu Inácio de Loyola, ingressando na Companhia de Jesus por influência deste.
Em resposta ao pedido de D. João III quanto à necessidade de missionários para o Oriente, Francisco Xavier ofereceu-se para ir, vindo a ser aí o legado do Papa.
Na Ásia, mais concretamente na Costa de Pescaria, em Ceilão, na Unsulíndia e no Japão, distinguiu-se pela conversão de nativos, criando comunidades cristãs autóctones.
Com a eleição de Inácio de Loyola para Superior Geral da Companhia, Francisco Xavier foi nomeado Superior das missões orientais, do cabo da boa Esperança até à China.
A sua Missão no Japão foi a mais célebre, pois aí lançou as sementes de uma comunidade cristã que viria a florescer durante cerca de cem anos.
Morreu em 1552, na ilha de Sanchão, quando se preparava para estender a sua missão até à China.
Foi canonizado, em 1622, pelo Papa Gregório XV.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Cristovão da Gama
CapitãoQuarto filho de Vasco da Gama, Cristovão da Gama terá nascido entre 1515 e 1516, vindo a morrer no ano de 1542.
Em 1532, com 16 anos, partiu para a Índia, onde se salientou pela bravura no combate contra os exércitos turcos. Como recompensa recebeu o cargo de capitão de Malaca e fidalgo da Casa Real, partindo para a Índia, pela segunda vez, no ano de 1538, integrado na armada do vice-rei da Índia D. Garcia de Noronha.
Quando o seu irmão Estêvão da Gama, na altura governador da Índia, o mandou em socorro do imperador etíope, que havia pedido ajuda para combater as forças do “rei de Zeila”, Cristovão da Gama ao comando de 400 homens, mais uma vez, se destacou pela audácia. Esta campanha militar foi extremamente dura num terreno muito acidentado e condições meteorológicas agrestes. Apesar da bravura demonstrada pelo capitão e pelos seus homens D. Cristovão é capturado, torturado e morto.
Após um período de acalmia os portugueses reorganizaram-se e sob o comando do Preste João (Imperador Cláudio II) derrotaram os exércitos muçulmanos que nunca mais voltaram a ameaçar seriamente o reino cristão. Os portugueses que participaram nesta batalha permaneceram na Etiópia e não mais voltaram a servir em nome do Rei de Portugal.
Este episódio foi relatado por Miguel Castanhoso, que participou na batalha, na “História das cousas que o mui esforçado capitão Dom Cristovão da Gama fez nos nos reinos do Preste João com quatrocentos portugueses que consigo levou” (1546).
adpt. CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
1.ª Bandeira
Nicolau Coelho segura a bandeira que se pensa ser do tempo de D. Afonso Henriques.
Bandeira
Martim Afonso de Sousa transporta a bandeira usada desde o reinado de D. João I ao de D. Afonso V.
Padrão
Destinava-se a assinalar a presença de portugueses e os direitos de posse de Portugal, simbolizando também a consagração dessa terra a Deus e à Igreja.
O Padrão esculpido com as armas reais usadas desde D. João II a D. Sebastião e encimado por uma cruz é puxado com o apoio de cordas por António de Abreu, Diogo Cão e Bartolomeu Dias. Foram estes últimos dois mareantes (navegadores) os primeiros a assentar estes marcos de pedra, ao longo da costa sudoeste e sudeste africana.
Figuras Lado Este
- D. Afonso V Rei
- Infante D. Henrique O Navegador. Filho de D. João I
- Vasco da Gama Navegador
- Afonso Gonçalves Baldaia Navegador
- Pedro Álvares Cabral Navegador
- Fernão de Magalhães Navegador
- Nicolau Coelho Navegador
- Gaspar Côrte-Real Navegador
- Martim Afonso de Sousa Navegador
- João de Barros Escritor
- Estevão da Gama Capitão
- Bartolomeu Dias Navegador
- Diogo Cão Navegador
- António de Abreu Navegador
- Afonso de Albuquerque Governador
- São Francisco Xavier Missionário
- Cristovão da Gama Capitão
Símbolos Lado Este
Lado Oeste
Infante D. Henrique
O Navegador. Filho de D. João IInfante de Avis a ascendência e os parentescos
D. Henrique nasceu no Porto a 4 de Março de 1394. Foi o quarto filho do rei D. João I e da rainha D. Filipa de Lencastre. Pela via materna era neto de João de Gaunt, duque de Lencastre, e bisneto do rei inglês Eduardo III, e foi sobrinho de Henrique IV de Inglaterra, ao mesmo tempo que uma tia, Catarina de Lencastre, era rainha de Castela. Pela via dos Plantagenetas, D. Henrique teve laços de parentesco próximo com a casa real dos reinos unidos da Noruega, Suécia e Dinamarca, e com a da Escócia.
Em Portugal, era meio-irmão de D. Afonso, o 1º duque de Bragança, e tio dos seus descendentes e era primo como tio da primeira geração dos Noronhas, em que se incluíam o arcebispo de Lisboa, a segunda mulher do duque de Bragança e os condes de Vila Real e de Odemira.
Com a morte do seu irmão mais velho, D. Afonso, passou a ser o terceiro na sucessão ao trono, mas nunca teve de assumir o poder ao contrário dos irmãos D. Duarte, que foi rei, e D. Pedro, que foi regente. Muito próximo da Coroa, sempre o primeiro entre as figuras secundárias, soube tirar partido desse poder discreto para impor a sua vontade e para obter senhorios e privilégios.
O Infante D. Henrique talant de bien faire
O infante D. Henrique é uma figura incontornável da História Universal. Homem poderoso, ambicioso e sonhador, crente e negociante, persistente e manipulador, humanista e guerreiro, temerário e pragmático, a sua personalidade complexa nunca será totalmente compreendida e os seus desígnios por vezes são imperscrutáveis.
Foi duque de Viseu e senhor da Covilhã, governador de Ceuta e da Ordem de Cristo, senhor dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, protetor da Universidade, detentor do monopólio das saboarias e da pesca do atum, senhor do Barlavento algarvio e das Berlengas, mais do exclusivo do comércio a sul do Cabo Bojador. Era o barão mais poderoso do reino de Portugal e o político mais influente, sempre capaz de manipular as decisões da Coroa. Foi, ao mesmo tempo, o inventor dos Descobrimentos. Adepto fervoroso da guerra santa, conquistador de Ceuta, sempre pronto para lutar contra os mouros dos reinos de Granada e de Fez, não se conformou com os limites geográficos da Cristandade e não se resignou ao medo do mar tenebroso. Curioso, desejoso de mais riqueza e de encontrar povos que se quisessem aliar na guerra aos mouros, convenceu os seus súbditos a enfrentarem o desconhecido e a vencerem o cabo Bojador.
A sua determinação paciente foi bem-sucedida e os navios portugueses começaram a navegar por mares nunca dantes navegados. Portugal ganhou um novo destino e o mundo foi chamado à Globalização.
O Infante
Aos 14 anos ganhou Casa; aos 17 obteve o senhorio de Viseu; aos 21 foi o herói da jornada de Ceuta, foi armado cavaleiro e recebeu o título de duque de Viseu; aos 22 foi-lhe confiado o governo de Ceuta; aos 26 recebeu a Ordem de Cristo; aos 30 anos ganhou o monopólio das saboarias do reino; aos 36 era o protector da Universidade; aos 39 tornou-se senhor do arquipélago da Madeira e obteve o exclusivo da pesca do atum; aos 40 anos recebeu Gil Eanes com a notícia da passagem do cabo Bojador; aos 43 sofreu uma derrota humilhante em África, às portas de Tânger; entre os 45 e os 47 foi o sustentáculo da regência do infante D. Pedro; aos 49 recebeu a doação de Gouveia e a do cabo de São Vicente e Sagres, e recebeu ainda o exclusivo do comércio e da navegação a sul do cabo Bojador; aos 52 anos assinou pela primeira vez documentos estando na “minha vila”, em Sagres; aos 55 anos figurou na batalha de Alfarrobeira; aos 59 recebeu a vila de Lagos; aos 63 obteve a alcaidaria-mor de Silves por troca com o senhorio de Gouveia; aos 64 participou na conquista de Alcácer-Ceguer; faleceu em Sagres, quando tinha 66 anos de idade.
O poder do duque de Viseu era enorme e diversificado; a corte ducal geria um pequeno estado dentro do reino, que lhe dava poder económico e militar.
A Revolução Geográfica
A acção política do infante D. Henrique bastava, só por si, para o tornar numa figura famosa da História de Portugal, mas a invenção dos Descobrimentos elevou-o à dimensão de protagonista da História Universal. O início da navegação para lá dos limites seculares da Cristandade foi o resultado da vontade de D. Henrique. Os cronistas referem mesmo os “murmúrios” das pessoas que não compreendiam a sua teimosia em enviar os homens a tentarem uma viagem tida por impossível. A passagem do Bojador constituiu um momento dramático da História, pois suscitou uma mudança radical e irreversível na relação da Humanidade com o Planeta, abrindo caminho à Globalização.
D. Henrique não se limitou a triunfar sobre o Bojador. Depois organizou os serviços da sua Casa de modo a desenvolver a arte de navegar, com a criação de um novo navio e o aperfeiçoamento de múltiplos objectos para orientação, ao mesmo tempo que procurava adaptar os seus homens às diferentes realidades que iam encontrando. E nunca se contentou com as terras achadas e ordenou sempre, até à morte, que as caravelas continuassem a ir mais além-usque ad indos [até à Índia].
Talant de bien faire
“Vontade de fazer bem”. Assim podemos traduzir a divisa escolhida pelo infante D. Henrique para nortear a sua vida. É um mote que revela uma personalidade determinada e ambiciosa, e um carácter incansável e implacável.
É certo que Henrique falhou às portas de Tânger, mas de resto a sua vida caracterizou-se por um enorme acumular de riqueza e de poder e por um empenho pessoal no crescimento da sua Casa, na pacificação da família e do reino. Sobreviveu a todas as crises porque teve sempre lucidez para escolher o campo certo. Meticuloso, perspicaz e defensor da ordem jurídica, foi um dos barões mais influentes do seu tempo e viu todos os governantes recompensarem-no principescamente. O mundo conhecido não lhe chegou e quis saber mais e ganhar novas riquezas, e convenceu os seus homens a vencerem o medo do mar. Influenciados pelo infante, marinheiros, pilotos, carpinteiros, cartógrafos e soldados uniram-se num projecto revolucionário e tiveram talento para o fazer bem. E assim abriram uma nova página na História da Humanidade.
Não sabemos exactamente qual foi a motivação que levou o jovem D. Henrique a escolher por divisa esta vontade de fazer bem, mas a intuição juvenil assentava numa força indomável que só sossegou quando o corpo expirou, em Sagres, a 13 de Novembro de 1460.
Este texto é da autoria de João Paulo Oliveira e Costa e foi preparado especialmente para a Folha de Sala da exposição “Infante D. Henrique Talant de Bien Faire”
Infante D. Fernando
Infante Santo. Filho de D. João IOitavo filho de D. João I e de Dona Filipa de Lencastre, D. Fernando nasceu em Santarém, a 29 de Setembro de 1402, vindo a morrer em Fez, no ano de 1443.
Aparece ligado ao movimento defensor da presença portuguesa em Marrocos, perspetivando esta presença num misto de alargamento político da presença portuguesa e de alastramento da fé cristã.
Sendo um defensor da conquista marroquina, é perfeitamente natural que pretendesse tomar parte na expedição, organizada já no reinado de D. Duarte, contra Tânger, e comandada pelo seu irmão Infante D. Henrique.
Com o fracasso desta expedição e com a sua captura e abandono nos cárceres de Arzila e Fez, tornou-se num meio de pressão dos mouros junto dos portugueses para a sua troca pela cidade de Ceuta. No entanto, a importância de que Ceuta se revestia junto dos defensores da conservação daquela praça, leva a que o Infante D. Fernando seja sacrificado a este interesse, o que ele não entendia, dado o teor de uma carta que enviou da prisão ao seu irmão Infante D. Pedro, na qual se mostrava esperançado na sua libertação.
Com a sua morte, nascia a figura do Infante Santo, designação por que passou a ser conhecido.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
João Gonçalves Zarco
NavegadorNo ano de 1419, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira fizeram, provavelmente, a sua primeira viagem de reconhecimento ao arquipélago da Madeira, tendo desembarcado na ilha de Porto Santo.
No ano seguinte, os mesmos capitães, mais Bartolomeu Perestrelo, voltaram ao Porto Santo. Foi na sequência desta segunda expedição, feita, segundo se pensa, já com o objetivo de fixação dos portugueses no arquipélago, que Gonçalves Zarco e Vaz Teixeira passaram à ilha da Madeira.
Mais tarde, viriam a ser nomeados capitães-donatários nesta ilha – Zarco ficou com a capitania do Funchal, e Vaz Teixeira com a do Machico – , com o objetivo de promover o seu povoamento e colonização.
Pode entender-se que a presença de João Gonçalves Zarco no Padrão simboliza um rumo da expansão marítima que se caracterizou pela ocupação de terras desertas ou semidesérticas e se estendeu das Ilhas Atlânticas até ao Brasil.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Gil Eanes
NavegadorNavegador português, natural de Lagos, escudeiro da Casa do infante D. Henrique. Em 1433, Gil Eanes recebeu a capitania de uma barca para dobrar o cabo Bojador, mas ficou-se pelas Canárias, onde se fizeram alguns cativos. No ano seguinte, foi encarregue da mesma tarefa, tendo dobrado o Cabo com sucesso. Segundo Gomes Eanes de Zurara, por tal feito o Infante armou-o cavaleiro.
Em 1435, regressou à costa ocidental africana numa barca, integrado na armada de Afonso Gonçalves Baldaia que capitaneava um barinel. Terão explorado cerca de 50 léguas da costa abaixo do Bojador, onde apenas encontraram rasto de homens e de camelos. Durante nove anos o nome de Gil Eanes é omisso na Crónica da Guiné, provavelmente terá permanecido em Lagos ligado à actividade comercial proporcionada pelos Descobrimentos Henriquinos.
Em 1444, o navegador incorporou a expedição de Lançarote de Lagos à costa de Arguim. Ao contrário das anteriores empresas, esta armada era de iniciativa privada ainda que autorizada pelo Infante. Na ilha de Naar, os capitães e os seus homens fizeram 165 cativos. Passaram depois à ilha de Tider, onde se dividiu a armada como tinha sido proposto por Gil Eanes que ficou a guardar os batéis, não tendo participado directamente no ataque à ilha. Desta jornada resultou a maior captura de escravos realizada até então pelos navegadores portugueses.
Em 1445, Gil Eanes voltou a participar numa armada comandada por Lançarote. Esta expedição, a maior realizada até à data, era constituída por pelo menos 26 caravelas e uma fusta, a maior parte de Lagos, mas também de Lisboa e da ilha da Madeira. A empresa tinha como missão vingar a morte de Gonçalo Sintra, em 1444, na ilha de Tider. Segundo Zurara, os seus habitantes podiam constituir perigo para as navegações portuguesas. A estes objectivos aliavam-se os interesses comerciais baseados na captura de escravos. Depois da tomada esta ilha Lançarote, seguindo as ordens do Infante, prescindiu do comando dando liberdade aos capitães para fazer o que bem entendessem. Gil Eanes fez parte do pequeno grupo que decidiu regressar de imediato para Portugal, porque as suas caravelas eram pequenas e o Inverno avizinhava-se.
Desconhece-se qualquer outro desenvolvimento no percurso de Gil Eanes ainda que a existência de muitos homónimos tenha, por vezes, criado alguma confusão em torno da figura do navegador, como alertou Luís de Albuquerque.
Biografia da autoria de Teresa Lacerda
Esta biografia pertence à Enciclopédia virtual da expansão (CHAM)
Que por questão técnicas, neste momento, não se encontra disponível no site http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Lisboa, Caminho, 1992. IDEM, Gil Eanes, Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa, 1987.COSTA, Fontoura da, Descobrimentos marítimos africanos dos portugueses com D. Henrique, D. Afonso V e D. João II, Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1938. MATOS, Luís Jorge Semedo de, “Eanes, Gil” in Navegações Portuguesas (Em linha, a 2/9/2009, http://www.instituto-camoes.pt/cvc/navegaport/d22.html). ZURARA, Gomes Eanes de, Crónica dos feitos notáveis que se passaram na conquista de Guiné por mandado do infante D. Henrique, 2 vols., Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1981.
Este texto encontra-se na Enciclopédia virtual da expansão da responsabilidade do Centro de História de Além Mar
Pêro de Alenquer
PilotoCrê-se que seja oriundo de Alenquer.
Pêro de Alenquer foi um piloto muito experiente nas navegações marítimas nos finais do século XV, o que levou a que, em 1487, D. João II o integrasse como piloto da nau de Bartolomeu Dias, que dobrou o cabo da Boa Esperança, em 1488.
Dada a experiência adquirida nesta expedição aos mares do extremo sul-africano, foi nomeado piloto do navio S. Gabriel, capitaneado por Vasco da Gama, aquando da viagem para a Índia, em 1498.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Pedro Nunes
MatemáticoNasceu em Alcácer do Sal, em 1502, morrendo a 1578.
Pedro Nunes notabilizou-se pelos estudos que efetuou ao nível da astronomia e cosmografia e da matemática, chegando a leccionar esta disciplina, primeiro, em Salamanca, e, depois, já em Portugal, em Coimbra e em Lisboa.
Em 1547, foi nomeado cosmógrafo-mor do reino.
Nos seus estudos de astronomia e cosmografia e estes ligados às navegações, nomeadamente quanto ao problema da orientação, Pedro Nunes propôs métodos que permitiram ultrapassar as limitações à observação do sol na altura da passagem do meridiano, principalmente em regiões de nebulosidade. Estes métodos possibilitariam achar a «altura do pólo em todo o tempo em que houvesse sol» mediante o conhecimento, em conjunto, da declinação, da altura e do azimute do sol.
No entanto, tal não passará da teoria, não sendo possível na prática, devido ao atraso dos conhecimentos de matemática e à dificuldade em se ter um azimute preciso. Para contornar estes problemas, ele propôs uma solução mecânica «através do uso de uma esfera com dois círculos graduados, um a representar o horizonte e o outro a vertical», como o explica no seu Tratado da Esfera.
Na área da Cartografia, Pedro Nunes inventa o sistema das «latitudes acrescentadas», que está na base da Projeção de Mercator, criada em 1569, essencial para contornar o problema dos meridianos paralelos nas cartas náuticas.
Descobriu ainda a linha loxodrómica ou de rumo e inventou o nónio.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Pêro de Escobar
PilotoPedro Escobar, também conhecido por Pêro Escolar, distinguiu-se como piloto de embarcações, durante os finais do século XV e os princípios do século XVI, tendo tomado parte nas viagens que trouxeram consequências importantes para os Descobrimentos e Expansão Portugueses.
No ano de 1471, encontramo-lo como piloto ao serviço de Fernão Gomes, nas suas viagens de exploração da costa ocidental africana, tendo descoberto, com João de Santarém, a costa da Mina.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Jácome de Maiorca
CosmógrafoCartógrafo maiorquino de origem judaica, Jácome de Maiorca terá sido contratado pelo Infante D. Henrique, a troco de «muitas dádivas e mercês».
A importância da sua vinda para Portugal teve a ver com a urgência de ampliar e melhorar as cartas náuticas mediterrânicas então usadas, acrescentando as terras africanas descobertas para lá do cabo Bojador.
Segundo Duarte Pacheco Pereira, autor do Esmeraldo de Situ Orbis, Jacomo de Maiorca teve um papel importante ao nível da cartografia portuguesa, ensinando esta arte aos futuros cartógrafos.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Pêro da Covilhã
ViajanteEste aventureiro português ao serviço de D. João II recebeu do Conde de Ficalho um trabalho biográfico ainda incontornável. Pêro da Covilhã terá nascido entre 1450 e 1455. Muito novo terá emigrado para Castela, onde em 1467 ou 1468 estava ao serviço da casa de Medina Sidónia, em Sevilha.
Em 1474, regressou a Portugal entrando ao serviço de D. Afonso V como «moço de esporas». Depois da batalha de Toro, acompanhou o Africano a França, onde o rei português pediu auxílio a Luís XI. Nesta última viagem, Pêro da Covilhã era já escudeiro, condição que manteve quando D. João II subiu ao trono. Ao serviço do novo monarca, partiu para Castela para vigiar discretamente os inimigos do Príncipe Perfeito, que tinham procurado refúgio no reino vizinho. Segundo o relato do próprio Pêro da Covilhã ao padre Francisco Álvares, foi por duas vezes ao Norte de África em missão comercial. Na sua estadia em Sevilha deve ter aprendido rudimentos de árabe, conhecimentos que terá aprofundado nestas duas últimas viagens.
Quando regressou do Magreb, D. João II deveria ter começado a planear o envio de emissários até à Índia, certo que estava da possibilidade da navegação do Atlântico para o Índico. Esta missão foi entregue a Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, este último oriundo de Castelo Branco, também escudeiro e igualmente conhecedor de língua árabe. Segundo relato do próprio Pêro da Covilhã, para melhor se orientarem foi-lhes entregue um mapa-mundo que irremediavelmente se perdeu no decurso da viagem. Caso tenha existido, o regimento de D. João II aos dois aventureiros deveria centrar-se em três missões concretas, a saber: recolher informações sobre o comércio na Índia, tentar apurar se de facto os oceanos Atlântico e Índico estavam ligados e, por último, contactar o Preste João de modo a determinar o verdadeiro poder militar deste rei cristão. Desta última missão estava encarregue Afonso de Paiva.
Em Maio de 1487, os dois aventureiros partiram, levando consigo uma carta de crédito e quatrocentos cruzados em moeda corrente. Segundo o testemunho de Pêro da Covilhã, atravessaram a Península Ibérica até Valência e Barcelona, seguindo depois por mar até Nápoles, a Rodes e a Alexandria. Para atravessarem as terras muçulmanas terão usado o disfarce de mercadores pois só nessa condição eram tolerados cristãos em tais territórios. De Alexandria passaram ao Cairo, onde integraram um caravana de magrebinos com destino a Adém, indo por terra até Toro, com escala em Suez, e dirigindo-se daí até ao seu destino por via marítima. Foi em Adém que os dois enviados se separaram combinando que assim que cumprissem as suas missões se reencontrariam no Cairo para regressarem a Portugal. Afonso de Paiva estava destinado à Etiópia enquanto que Pêro da Covilhã deveria seguir para a Índia. De Adém Pêro da Covilhã partiu para Cananor e depois para Calecut e daí para Goa. Mais tarde, foi a Ormuz. Continuou o seu périplo pela costa oriental africana tendo chegado até Sofala.
A missão de Pêro da Covilhã estava terminada, assim, em princípio de 1491, regressou ao Cairo onde lhe foi dada a notícia da morte de Afonso de Paiva e como este não chegara sequer a entrar na Abissínia. Mestre José e o rabino Abraão transmitiram-lhe novas ordens régias. Pêro da Covilhã deveria acompanhar o rabino a Adém em missão desconhecida, assim como, antes de regressar a Portugal, deveria recolher informações sobre o Preste João. Mais uma vez, Pêro da Covilhã deu cumprimento às ordens de D. João II. Segundo o Conde Ficalho, deve ter entrado na Etiópia no ano de 1492 ou 1493, alcançado a corte de Eskender, que era então o rei ou negus da Abissínia, a quem entregou as cartas escritas em árabe que o monarca português enviara. Cumprida a sua missão, Pêro da Covilhã foi apanhado numa crise sucessória instalada após a morte de Eskender. Quando o rei Narod subiu ao trono, Pêro da Covilhã pediu-lhe as credenciais necessárias para regressar a Portugal, mas o novo monarca não o deixou partir.
Pêro da Covilhã deve-se ter adaptado bem à vida na Abissínia, onde exerceu cargos na administração. O negus doou-lhe terras onde se instalou e constituiu família. Teria cerca de setenta anos quando chegou a embaixada de D. Rodrigo de Lima. Foi nesta ocasião que relatou a sua viagem ao padre Francisco Álvares que o assentou na sua obra A Verdadeira Informação da Terra do Preste João das Índias. Quanto ao relato que teria enviado a D. João II, este provavelmente nunca chegou ao destinatário, como refere Gaspar Correia. Com efeito as armadas de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral foram preparadas no pressuposto de que a Índia era maioritariamente cristã e a esquadra do Gama não saiu de Lisboa com informações ajustadas à navegação no oceano Índico, nomeadamente, aos ventos de monção.
A biografia da autoria de Teresa Lacerda
Esta biografia pertence à Enciclopédia virtual da expansão (CHAM)
Que por questão técnicas, neste momento, não se encontra disponível no site http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Lisboa, Caminho, 1992. FICALHO, Conde de, Viagens de Pêro da Covilhã, Lisboa, 1989. PEREIRA, António dos Santos, “Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, de Castelo Branco: Agentes Secretos de D. João II”, in Anais Universitários. Série Ciências Sociais e Humanas, Covilhã, Universidade da Beira Interior, n.º 1, 1990, pp. 147-155.
Gomes Eanes de Zurara
CronistaNascido provavelmente entre 1410 e 1420, Gomes Eanes de Zurara foi o segundo cronista oficial português, cargo que ocupou desde 1454 até à sua morte, em 1474. Tendo recebido instrução literária, no seguimento da sua ida para a corte de D. Afonso V, pode afirmar-se que Zurara demonstra uma assinalável influência humanista, uma vez que entre o grande número de autores que cita se encontram vários clássicos (como Homero, Hesíodo, Tito Lívio, Cícero e muitos outros), e as suas obras revelam uma erudição que raramente encontra paralelo nos autores portugueses coetâneos.
A sua primeira obra foi a Crónica da Tomada de Ceuta, terceira parte da Crónica de D. João I. De seguida, escreveu a Crónica da Conquista da Guiné, expondo os feitos do Infante D. Henrique, e depois a Crónica do Conde D. Pedro de Meneses, e a Crónica do Conde D. Duarte de Meneses.
Tendo-se centrado, ao produzir as suas obras, no movimento expansionista que marcava na sua contemporaneidade, a vida política, económica, cultural e social do Reino de Portugal, e que o singularizava e prestigiava, Gomes Eanes de Zurara é um autor essencial para o estudo do Portugal de Quatrocentos, não só por as suas obras nos apresentarem importantes dados para a compreensão da fase inicial da Expansão Portuguesa, mas também por proporcionarem um maior entendimento sobre a cultura e mentalidades deste período.
O cronista começa a sua Crónica da Conquista de Ceuta mostrando a inquietação que o acordo de Ayllon, de 1411, o qual estabelecia um período de vinte anos de paz entre Portugal e Castela, provocou no seio dos jovens nobres. De facto, a guerra era, mais do que a forma de afirmação social da nobreza, a sua principal função, a par do conselho que deveriam prestar ao monarca, pelo que finda a guerra, os nobres não tinham como ganhar honra e exercer o seu mester, receando perder importância. Para além disso, a paz absoluta era preocupante para o Reino, uma vez que numa época em que facilmente deflagravam conflitos bélicos, os “bellatores” partiriam para outros reinos, onde pudessem fazer a guerra, ou ficariam destreinados.
Deste modo, com o tratado de paz, colocava-se um claro problema social e político, ilustrado por Zurara através dos infantes, D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, que tendo já entrado na idade adulta, ainda não haviam sido armados cavaleiros. De facto, face a uma grande Nobreza constituída pelos heróis de Aljubarrota, precisavam urgentemente de se afirmar como futuros condutores do Reino e adquirir legitimidade política através da guerra. Esta narrativa é bastante relevante, na medida em que não só nos apresenta causas sociais e políticas que, associadas a outras, conduziram à decisão de conquistar Ceuta, mas também permite uma grande compreensão das dinâmicas sociais da aristocracia medieval. Para além disso, na mesma crónica, o ideal medievo de Cruzada, inculcado na cultura política da época e que movia D. João I, D. Duarte, e principalmente, D. Henrique, também está muito presente.
(…)Importa, também, abordar o rigor que Gomes Eanes de Zurara evidenciou enquanto narrador de acontecimentos passados. Efectivamente, revela alguma preocupação com a verdade contida nos factos que transmite, uma vez que embora tenha sido contemporâneo de grande parte dos acontecimentos que relata, não dispensa a utilização de diversas fontes de informação.
(…)Sobre o protagonismo que concedeu a D. Henrique na Crónica da Conquista de Ceuta, refira-se que não obstante o facto de relatar ao pormenor todos os movimentos do Infante, o cronista não deixa de o criticar, apontando a inconsequência e excessiva ambição das suas acções. De facto, Zurara mostra que a conquista da cidade não se deveu à acção de D. Henrique, mas sobretudo à de D. Duarte. Contudo, os actos temerários daquele valeram-lhe o louvor por parte dos seus contemporâneos, tendo mesmo sido assaz valorizados por D. João I.
Quanto à imagem profundamente devota que Zurara transmitiu a respeito de D. Henrique, o qual apresentou como um príncipe motivado pelo ideal de Cruzada, também não temos razões para afirmar que esta foi forjada pelo cronista, uma vez que a documentação avulsa não a contraria, e até o veneziano Alvise Cadamosto traça um retrato muito semelhante do Infante, embora apenas tenha mantido com ele relações comerciais, e o seu relato não se paute por qualquer intenção de o glorificar. Assim, podemos apenas assumir que se essa não correspondia a uma imagem verdadeira de D. Henrique, pelo menos foi a que este cultivou e transmitiu aos homens do seu tempo.
Como conclusão, apesar de tradicionalmente a historiografia relegar Zurara para a sombra da grande figura de Fernão Lopes, ao recordá-lo como indiferente às dinâmicas sociais, mostrando uma concepção individualista da sociedade e enaltecendo apenas os grandes feitos da aristocracia guerreira, felizmente alguns autores actuais começam a reconhecer a este cronista o seu devido valor. Na verdade, se sua obra não deve ser lida como se apresentasse verdades indiscutíveis, uma vez que lhe está associada toda a subjectividade própria de qualquer ser humano, também nos dá conta de muitos aspectos importantes da Expansão Portuguesa, bem como da cultura e mentalidades do Portugal do século XV.
A biografia completa, da autoria de Catarina Simões pode ser lida aqui
Esta biografia pertence à Enciclopédia virtual da expansão (CHAM),que por questão técnicas, neste momento, não se encontra disponível no site http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/
Bibliografia:
CARVALHO, Margarida Barradas, “L’ideologie religieuse dans la «Crónica dos Feitos de Guiné» de Gomes Eanes de Zurara”, sep. de Bulletin des études portugaises, t. XIX, 1956. COSTA, João Paulo Oliveira e, Henrique, o Infante, Lisboa, Esfera dos Livros, 2009 (no prelo). ZURARA, Gomes Eanes de, Crónica da Conquista de Ceuta, introdução e notas de Reis Brasil, Mem Martins, Publicações Europa-América, cop. 1992. ZURARA, Gomes Eanes de, Cronica do Descobrimento e Conquista de Guiné escrita por mandado de ElRei D. Affonso V (…), introdução, ilustração e notas do Visconde de Santarém, Paris, J. P. Aillaud, 1841.
Nuno Gonçalves
PintorNão se sabe o local onde terá nascido nem onde terá morrido, situando-se o seu nascimento por volta de 1425 e o ano da sua morte por volta de 1491.
Pintor régio, é-lhe atribuída a autoria dos painéis de São Vicente.
Estes painéis foram descobertos, por volta de 1882, nos paços patriarcais de São Vicente de Fora, encontrando-se, actualmente, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Os painéis de Nuno Gonçalves são constituídos por dois trípticos, onde estão representadas as diferentes ordens de grupos da sociedade portuguesa de meados do século XV, incluindo os pescadores e alguns membros da família real; destes, pensa-se que o Infante D. Henrique é o homem com o chapéu preto.
São estes polípticos que vão justificar a presença da figura do pintor Nuno Gonçalves no conjunto escultórico do Padrão dos Descobrimentos. A criação destes painéis poderá estar inserida no reconhecimento da política marítima do Infante D. Henrique ou nos «remorsos de uma sociedade que tenta, com êxito, resgatar os restos mortais de D. Fernando, vítima de um erro político» (Dagoberto Markl).
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Luiz Vaz de Camões
PoetaNão se conhece o local nem o ano em que nasceu, tendo morrido em Lisboa, entre 1579 e 1580.
Na sua adolescência, Luiz Vaz de Camões viveu em Coimbra, não se sabendo se aí terá frequentado o Colégio das Artes. Nessa cidade, terá adquirido conhecimentos humanistas, que marcaram a sua obra, particularmente Os Lusíadas.
Na década de 1540, veio para Lisboa.
Depois de uma série de peripécias, partiu degredado para o norte de África, onde perdeu em combate o olho direito, regressando, mais tarde, a Portugal.
Em 1553, e devido a uma briga com um moço do paço real, foi desterrado para o Oriente.
No Oriente, onde tomou parte em expedições, Luís de Camões começou a sobressair-se na escrita. A sua mordacidade quanto à actuação dos portugueses na Índia, n’Os Disparates da Índia, provocou o seu degredo para Macau.
Aqui, teria desempenhado um cargo administrativo.
Acabado o tempo da sua condenação, regressou à Índia. O navio em que viajava naufragou perto da costa do Cambodja, junto à foz do rio Mekong. É aqui que se dá o célebre episódio do salvamento d’Os Lusíadas, referido no Cântico X, estrofe 128.
Conseguiu chegar a Goa.
Em 1567, empreendia a viagem de regresso a Portugal, ainda que fique uns tempos em Moçambique, devido à falta de dinheiro para pagamento da continuação da viagem.
É certo encontrar-se, no ano de 1570, em Lisboa.
Em 1572, sai publicado o seu poema épico intitulado Os Lusíadas. Segundo opinião de Luís de Albuquerque, esta obra, ao narrar a viagem de Vasco da Gama, poderá ser inserida, embora com certas reticências, no que é conhecido por «literatura de viagens». Ainda segundo este historiador, Luís de Camões, para escrever Os Lusíadas, terá lido a Relação da viagem de Vasco da Gama, crê-se que escrita por Álvaro Velho, e a História do descobrimento e conquista da Índia pelos portugueses, de Fernão Lopes de Castanheda, assim como as Décadas de João de Barros, nomeadamente a parte em que narra as viagens marítimas ao longo da África Ocidental.
Nesse mesmo ano, foi-lhe concedida uma tença de 15 mil reais anuais, uma forma de pagamento da obra e dos serviços na Índia.
Para além d’Os Lusíadas, Luís de Camões escreveu as Líricas e três comédias – Anfitriões, Auto do Rei Seleuco e Filodemo.
Com o tempo e particularmente a partir dos finais do século XIX, tornou-se o símbolo da unidade e da independência nacionais.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Frei Henrique de Coimbra
FranciscanoPensa-se que pertencesse à Ordem dos Franciscanos. Frei Henrique de Coimbra, teria feito parte da tripulação da armada de Pedro Álvares Cabral, aquando da descoberta/achamento do Brasil, onde se deduz, segundo informação contida na carta de Pero Vaz de Caminha, teria celebrado a primeira missa.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Frei Gonçalo de Carvalho
DominicanoFrei Gonçalo de Carvalho pertenceu à Ordem dos Pregadores (Dominicanos), tendo ido para o Congo em 1610, a pedido do rei congolês D. Álvaro II, onde veio a morrer.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Fernão Mendes Pinto
EscritorNasceu em Montemor-o-Velho, cerca de 1510, e morreu em Almada, no ano de 1583.
Em 1537, embarcou para a Índia, que lhe serviu de trampolim para viagens por todo o Oriente, desde a Etiópia até ao Japão. Foi um dos primeiros portugueses a desembarcar no Japão.
Fernão Mendes Pinto deixou-nos a narrativa das suas viagens na Peregrinação, obra publicada em 1614, 31 anos depois da sua morte. Ocupando um lugar de destaque na literatura portuguesa de expansão, a Peregrinação contém informações sobre costumes das populações asiáticas com quem conviveu e sobre acontecimentos que ele verificou ou que se deram aquando da sua estadia no Oriente.
Regressou a Portugal em 1558.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Rainha Dona Filipa de Lencastre
Mãe do Infante D. HenriqueNasceu em Inglaterra, no ano de 1360, morrendo em Odivelas, no ano de 1415.
Filha do duque de Lencastre, Dona Filipa de Lencastre casou com D. João I, no Porto, a 2 de Fevereiro de 1387.
Parece ter exercido grande influência junto do seu marido, assim como na educação de seus filhos. Destacaram-se, pela sua cultura e postura, os Infantes D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. João, e, pelo fim trágico, D. Fernando.
Pessoa muito religiosa. Apoiou a expedição a Ceuta dentro do espírito de cruzada contra os “infiéis”. Em vésperas da partida para Ceuta, a rainha encontrava-se doente, atacada pela peste, o que não a impediu de incentivar a expedição, consciente da sua importância. Gomes Eanes de Zurara refere tal apoio, ao narrar os episódios da entrega a cada um dos filhos de uma espada e de um pedaço da cruz de Cristo, para além das recomendações maternas.
A sua morte, a 18 de Julho, não impediu a largada da armada para o sul, sete dias depois. Entre a dor e o luto, além dos maus augúrios, venceu a vontade firme de conquistar a praça de Ceuta.
CAMPOS, Nuno / CARNEIRO, Isabel: O Padrão dos Descobrimentos – roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994
Infante D. Pedro
Filho de D. João ID. Pedro nasceu em Lisboa, a 9 de Dezembro de 1392; era o 3º filho varão de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Em 1400, com a morte do herdeiro do trono, o infante ganhou mais peso político, e em 1408 começou o processo de criação da sua casa e da de D. Henrique, que foi concluído em 1411. O seu senhorio ficou sedeado em Coimbra.
D. Pedro participou ativamente nas manobras políticas e nos preparativos da expedição a Ceuta. Esta resultou de motivações diversas, de ordem política, económica, social e religiosa, que congregaram gentes com interesses variados num objetivo comum. Os infantes buscavam uma forma de se afirmarem social e politicamente, numa corte em que ponderavam ainda os heróis de Aljubarrota e seu meio-irmão, D. Afonso, o conde de Barcelos (e futuro duque de Bragança), que havia sido armado cavaleiro pelo pai, em 1398, após a conquista de Tui. A obtenção da cavalaria durante festejos luzidios mas inócuos não podia agradar a D. Pedro e seus irmãos, pelo que a sua voz cedo se juntou às dos que propuseram o ataque a Ceuta. Ao preparar o assalto, D. João I confiou a D. Pedro o comando de uma parte da armada, pelo que o infante não participou no primeiro desembarque, em que pontificaram seus irmãos. D. Pedro acompanhou a segunda vaga e combateu pelas ruas de Ceuta. Depois foi armado cavaleiro, junto com D. Duarte e D. Henrique.
No regresso ao reino, logo em Tavira, o rei outorgou-lhe o título de duque de Coimbra.
O infante acabou mesmo por abandonar momentaneamente o reino, entre 1425 e 1428, realizando então a sua celebrada jornada que o levou a visitar diversas cortes europeias, nomeadamente a inglesa, a borgonhesa, a imperial, a papal e as de Aragão e de Castela.
Foi durante o seu périplo que, estando em Bruges, no ano de 1426, D. Pedro escreveu uma célebre carta a D. Duarte, em que se manifestava contra a forma como era mantida a praça de Ceuta. Depois de regressar ao reino, D. Pedro manifestar-se-ia repetidamente contra a aventura marroquina: opôs-se sempre ao partido que defendia a continuação da guerra em África, fação que era encabeçada pelo infante D. Henrique; manifestou-se, depois, em 1438, a favor da entrega de Ceuta como forma de resgatar seu irmão D. Fernando, que ficara refém, depois da fracassada expedição do ano anterior; tentou, em 1440, concretizar a devolução da cidade aos mouros, mas uma armada genovesa atacou a esquadra portuguesa que ia desempenhar essa missão, e a morte do respetivo capitão-mor fez abortar o negócio.
Entretanto, D. Duarte falecera em Setembro de 1438, e perante a menoridade de D. Afonso V, D. Pedro opusera-se à regência da rainha viúva. Com o apoio de seus irmãos, D. Henrique e D. João, foi nomeado regente do reino, em 1440.
Entre 1420 e 1440, além de se discutir recorrentemente na corte a possibilidade de realizar nova grande ofensiva contra os mouros, navios portugueses começavam a desbravar o mar desconhecido e a ocupar arquipélagos atlânticos próximos do território continental de Portugal – a Madeira e os Açores, ao mesmo tempo que prosseguiam tentativas goradas para dominar as ilhas Canárias.
Depois, ao assumir a regência, ter-se-á apercebido da importância estratégica das navegações conduzidas por D. Henrique e logrou atrair essa iniciativa privada para a órbita da Coroa.
No entanto, a principal medida tomada por D. Pedro prendeu-se com o domínio das águas a Sul do Bojador. Os navios de D. Henrique avançavam para regiões distantes e começavam a trazer mercadorias cada vez mais valiosas. O duque de Viseu, porém, não tinha mecanismos políticos que lhe permitissem, por si próprio, legitimar o acesso exclusivo a esses territórios recém-descobertos. Assim, em 1443, D. Pedro e D. Henrique estabeleceram um acordo político de apoio mútuo, como haviam feito noutras ocasiões. A 22 de Setembro, D. Pedro, em nome do rei, concedeu a D. Henrique, a título vitalício, o exclusivo da navegação a Sul do Bojador. D. Henrique ganhava legitimidade para atacar quem ousasse disputar o seu monopólio; ao mesmo tempo, D. Pedro assegurava que o trato da Guiné viria a tornar-se exclusivo régio; bastava esperar pelo falecimento de D. Henrique. E assim foi: em Novembro de 1460, quando o duque de Viseu terminou os seus dias, D. Afonso V conservou na esfera da Coroa o comércio da Guiné, concretizando, assim, a política congeminada por D. Pedro 17 anos antes. De facto, ao conceder o monopólio da navegação e do comércio a Sul do Bojador a seu irmão, o regente havia proclamado, pela primeira vez, que a Coroa portuguesa tinha direitos sobre essas águas, o que se tornaria num dos pilares da política da dinastia de Avis. Assim, se D. Henrique foi, indiscutivelmente, o responsável pela génese dos Descobrimentos e pelo desencadear do fenómeno da primeira globalização, foi D. Pedro, por sua vez, quem deu a esse processo uma dimensão política, concretizando uma doutrina de domínio dos mares que havia sido ensaiada pela primeira vez um século antes, por seu bisavô, o rei D. Afonso IV.
Entretanto, D. Pedro não fora capaz de manter uma relação de confiança com D. Afonso V, e após ter abandonado a regência não resistiu às intrigas que seus inimigos urdiam junto do jovem rei. Este clima de crispação e de desconfiança levou a que o duque de Coimbra cometesse um grave erro político ao dirigir-se para a corte acompanhado de sua hoste apercebida para a guerra. Enleado na armadilha em que se deixou cair, D. Pedro tombou ferido de morte durante a batalha de Alfarrobeira, a 20 de Maio de 1449 – o único confronto militar do século XV em que um senhor privado enfrentou a hoste real.
A biografia completa, da autoria de João Paulo Oliveira e Costa pode ser lida aqui
Esta biografia pertence à Enciclopédia virtual da expansão (CHAM)
Bibliografia:
Costa, João Paulo Oliveira e, Henrique, o Infante, Lisboa, Esfera dos Livros, 2009. Moreno, Humberto Baquero, A Batalha de Alfarrobeira, 2 vols., Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1979-1980. Thomaz, Luís Filipe, “A evolução da política expansionista portuguesa na primeira metade de Quatrocentos” in De Ceuta a Timor, Carnaxide, Difel, 1994, pp. 43-147.
Quadrante
Quadrante nas mãos de Jácome de Maiorca
Um dos instrumentos para a medição da altura das estrelas, determinando a latitude de um lugar.
Astrolábio
Astrolábio nas mãos de Gil Eanes, um dos instrumentos para a medição da altura das estrelas, determinando a latitude de um lugar.
Bandeira
Pêro Escobar segura a bandeira da Ordem de Cristo, ordem religiosa e militar que teve jurisdição espiritual sobre as terras descobertas e de que D. Henrique foi administrador.
Compasso e esfera armilar
Compasso e esfera armilar nas mãos de Pedro Nunes
Caravela
Estas embarcações tornar-se-iam emblemáticas dos próprios Descobrimentos, tendo protagonizado o ciclo de viagens que se concluiu com Bartolomeu Dias e a verificação empírica da existência de uma ligação marítima entre o Atlântico e o Índico.
As caravelas tinham velas latinas em dois mastros, e eram de porte superior às barcas das primeiras viagens henriquinas.
A caravela permite melhorar as condições de progressão em mares desconhecidos por lhes ser mais fácil praticar a navegação à bolina – em relação aos navios de pano redondo – uma solução de recurso mas a única possível em face de ventos dominantes contrários ao sentido da progressão do navio.